Cheguei a participar de uns três ou quatro cursos e palestras diferentes e em algum determinado momento alguém perguntou:
Confesso que preenchi escrevendo qualquer coisa para não deixar o espaço em branco, mas tive que aceitar (e não doeu menos) que eu não sabia o que dizer. Foi quando eu parei e pensei que, se eu lembrasse quem eu fui há uns dez, quinze anos, talvez conseguisse responder a essa pergunta de forma mais honesta. Talvez olhar pra trás nos ajuda a seguir em frente. E eu parei, mesmo, de verdade. Deixei de pensar em estratégias para ganhar mais dinheiro naquele momento e só observei, mais a mim mesma do que as pessoas. Em vez de aprender a fazer lançamentos (para sonhar com o tão famoso 6 em 7), me fechei. Lembrei da Mirelle dos anos 2000, a estranha que sonhava em fazer jornalismo. Pensei nessa adolescente e em suas escolhas. Eu me revisitei e me acolhi com todas as minhas vulnerabilidades. Foi assim que descobri que tudo é sobre plantio e colheita. Pensei nos caminhos que percorri desde que comecei a estagiar, passei pela produção, reportagem, tive a oportunidade de apresentar e editar alguns programas, depois fui para a assessoria de imprensa. Se fosse me definir, diria que sou a idealizadora das neuras, criadora do método de fazer confusão, a mentora da insegurança. Larguei a CLT para criar uma conexão direta com a instabilidade.
Em época de sorrisos fáceis, dancinhas empolgantes (e convidativas) e uma felicidade nem sempre verdadeira nas redes sociais, escrevi (devagarinho) o livro Não Preciso Ser Fake. Foi como um grito que poderia vir acompanhado do som de amarras caídas ao chão. Um desabafo entalado na garganta depois de engolir tanta coisa que não deveria. Neste livro conto minha trajetória no jornalismo desde 2007 e os desafios da profissão nos dias de hoje.
Este livro não é sobre vitimismo, mas sobre superação. Ao escrever, me vi dando boas risadas, lágrimas e inserida em um pouco de caos, afinal, esse livro fala sobre a vida e mostra a rotina do jornalista, sem qualquer tipo de glamourização, além de trazer reflexões sobre o jornalismo para quem produz e quem consome.
Dizem que somos resultado dos livros que lemos, das músicas que ouvimos e das pessoas que amamos. Acho que também somos resultado de quem nos fez mal, um dia. Quando conseguimos extrair o melhor do pior, tornamo-nos pessoas melhores, mais humanas, por mais estranha que essa expressão parece ser.
Entrei nesse livro, inicialmente apenas uma tela do Word, sem nada escrito, como quem entra em uma piscina com água fria. No começo, coloquei só o dedinho do pé, tirei rapidamente e, quando percebi, estava submersa. Mesmo sem saber nadar, percebi que posso voar. Esse livro é sobre a Vida! Me sinto grata por cada linha escrita e, mais ainda, por cada leitor que me permite entrar na sua morada (no sentido mais amplo que essa palavra pode ter).
A escrita me caiu bem, como uma sessão de terapia. Como diz a letra de uma música que eu aprendi agorinha: “Caminhos iguais não levam a novo nenhum”.