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CADERNO SAÚDE ANIMAL
O caderno Saúde Animal foi publicado em dezembro de 2011. Em doze páginas, trouxe temas como qualidade de vida, prevenção de doenças e comportamento animal. Mesmo sendo um produto da diretoria comercial do jornal, tive a preocupação de trazer reportagens jornalísticas que oferecessem um serviço à sociedade durante todo o conteúdo impresso. Peguei personagens, fui atrás de histórias, conforme direcionamento que recebi da chefia. Mesmo quem não patrocinou o caderno especial, foi ouvido como fonte. Falar sobre medicina laboratorial veterinária, terapia assistida com animais (TAA) e doação de sangue foi, à época, inovador.
Em janeiro do ano seguinte, fui convidada para ser colunista do jornal, na edição de sábado. Foi quando tive a oportunidade de falar sobre adoção e posse responsável. A cada semana, publicávamos fotos de animais disponíveis para adoção. Tive a honra de conhecer histórias de vida que se cruzaram de forma divina. Um amor que julgamento algum dos outros é capaz de diminuir a grandeza de quem se doa e recebe um amor gratuito e genuíno.
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O ESCOLHIDO
Eu sei que você está super curioso/a pra ver a cara do Escolhido. Eu também estaria. Por isso, fiz todo esse suspense e nem coloquei indicação no site. Essa é uma surpresa m
inha pra você.
O Agostinho, pra mim, fisicamente, era uma mistura do Júnior (jogador das antiga) com o Tiririca. Quando eu e todo mundo lá na tevê perguntávamos a ele como era possível ele ter tantos filhos bonitos (Afro, Izabelly e Cibelle), ele soltava:
- Pai é o que cria.
Ora, se ele tirava brincadeira com todo mundo que passasse pela frente, também teria que ser alvo, um dia, né? Faz parte rsrsrsrs
No dia que ele faleceu, eu estava em viagem à trabalho, em Foz do Iguaçu, lembro como se fosse ontem. Ele havia me dado bom dia logo de manhã cedo. Eu não consegui responder porque o avião decolou antes que a mensagem fosse enviada. Quando eu cheguei ao destino, meu celular não parava de tocar. Muitos colegas ligavam para perguntar:
- Você sabe como o Agostinho está? Parece que vai ser transferido de helicóptero para Fortaleza.
Eu gelei. Não entendi nada do que acontecia, até que uma das filhas dele me ligou e falou do acidente. Estava desesperada à procura de notícias. Eu não sabia de absolutamente nada. Pedi a todos os colegas da imprensa que fizessem o que fosse possível, que se precisassem de alguma ajuda financeira, nós daríamos um jeito. Quando eu entendi que o acidente tinha sido grave, e que tudo já estava sendo feito, desliguei o celular. Usei a covardia porque não queria acreditar que poderia perdê-lo, não daquele jeito, não de uma forma tão cruel, repentina. A minha vontade era jogar o celular no chão e dizer para o mundo que eu não aceitava o que estava acontecendo. Horas depois, meu esposo me localizou e eu não queria atendê-lo. Pela voz da minha amiga ao telefone com ele, eu sabia que ela trazia a PIOR NOTÍCIA que eu já havia escutado, um dia.
Meu Escolhido estava morto.
Neguei, gritei, desesperada, chorei.
Aquele cara não combinava com A MORTE.
Não, a morte teria se confundido desta vez. Não era possível!
Eu pedia, aos prantos, para o Julião dizer que ainda tinha uma chance, mas não havia.
Pensei em voltar, na mesma hora, para Fortaleza, mas o único vôo disponível talvez não conseguisse me fazer chegar a tempo.
No fundo, no fundo, eu não queria vê-lo em um caixão.
Ele sempre dizia que iria roubar o paletó de algum defunto para ir ao nosso casamento.
A morte não parecia combinar com ele, destoava, sabe?
Eu preferi não ir. Eu não consegui……
Dói muito escrever pra vocês e reviver tudo isso.
É uma dor que ainda lateja em mim.
Ele morreu fazendo o que tanto amava, o jornalismo.
E foi o jornalismo que nos apresentou, estava escrito. Nossas vidas precisavam se encontrar, de alguma forma.
É difícil, até hoje, aceitar sua morte.
Quando quero lembrar dele, coloco a música Lindo Céu, da Adriana Arydes. “...Por sobre as nuvens, existe um lindo céu, maravilhoso céu, morada dos anjos….”. Me vejo rindo (lembrando das piadas dele) e chorando feito criança, ao mesmo tempo, lembrando das nossas brincadeiras e conversando com ele também, falando até dos meus planos.
Não sei se você sabe, mas esse livro é dedicado ao Padre Fábio de Melo porque nas suas celebrações durante a pandemia, comecei a rascunhar este livro. Depois, comprei o A Hora da Essência, de sua autoria. Aí pronto! Era o incentivo que eu precisava para fazer o meu.
A maneira como o Padre Fábio nos coloca diante de nós mesmos é divina. Pra mim, ele mostra um Deus despojado, que pode até tomar um café com tapioca e depois dar um cochilo na rede aqui de casa sem se preocupar que faz tempo que ela não é lavada.
Sou tão grata por tudo isso que resolvi dedicar o livro a ele.
Tinha o sonho de entregar meu livro ao Padre. Consegui que um amigo nosso, repórter, o fizesse, após uma entrevista com ele no evento católico Halleluya. O livro nem havia sido lançado ainda, mas eu precisava que chegasse às mãos de quem tanto me ajudou sem nem imaginar.
No momento da entrevista, acontecia o show da Adriana Arydes, que vazava no áudio do repórter, ou seja, dava pra gente ouvir as músicas que ela cantava. O repórter Alisson Braga entregou meu livro nas mãos do Padre só no finalzinho. Adivinhem QUE MÚSICA Adriana Arydes cantava nos 15 SEGUNDOS em que o Padre Fábio recebeu meu livro? Eu vendo, ainda fico quase sem acreditar…….
Por um momento, imagino, lá em cima, o Agostinho me imitando, chegando nos ouvidos de Deus pra dizer:
- Deus, eu não gosto de pedir nada a ninguém, não gosto de dever favor a ninguém, mas vamos ajudar a Mirelle a entregar o livro pro Padre Fábio?
E Deus responde:
- Tá bem, Agostinho, mas é só 2 take e 1 carreira.
Obrigada, Meu Escolhido! Obrigada meeeeeessmo!
E pode me imitar aí em cima que eu não pego mais ar, não!
Inclusive, Agostinho Bandido, pra te mostrar que tô evoluída, vou colocar aqui os áudios que tu mandava pra mim.
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Eu nunca pensei que o nosso canal no Youtube fosse “terminar” dessa forma. Julião não queria gravar esse vídeo de despedida, compreendi que ele é super reservado e ainda pensava que poderíamos estar nos precipitando em cancelar tudo, mas eu acreditava que todo aquele silêncio não era justo com quem acompanhava nossa história há tanto tempo e merecia atenção, o que é totalmente diferente de dar satisfação. Eu que já trabalhava há algum tempo em tevê, tive dificuldade em olhar pra câmera, encarar a minha realidade naquele momento. Acho que eu não queria me ver naquela situação. Foi o pior momento que já vivi. Um luto que, para muitos, nem foi sequer enxergado. Nunca mais esqueci que uma amiga minha do mestrado chegou pra mim e perguntou:
- Como VOCÊ está? (com toda a ênfase possível na palavra você)
Naquele momento, eu entendia que a dor dele importava mais que a minha. Algum tempo depois, e com a ajuda da terapia, percebi que olhar um pouco pra mim também naquele momento era uma forma importante de autoamor. Não consegui. Fingi que não havia feridas. Como não consegui cuidar de mim, foi difícil também cuidar de quem tanto precisava. A gente só dá o que tem. E, naquele momento, eu realmente não tinha. Mesmo assim, dei o melhor de mim. Como dizemos aqui no Ceará, fiz “das tripas coração”.
Consegui, conseguimos. Ninguém explica Deus.
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A série de reportagens com o tema “Consciência ambiental e desenvolvimento” conquistou a 2ª edição do Prêmio oferecido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) na categoria reportagem especial "Inovação e Sustentabilidade". Na disputa do prêmio, que contemplou trabalhos jornalísticos de várias empresas de comunicação do país, concorreram 134 reportagens de cinco categorias: Rádio, TV, Mídia Impressa, WEB e Grande Prêmio de Jornalismo.
A série de reportagens com o tema "Consciência Ambiental e Desenvolvimento", exibida pela TV O POVO, em 2013, fez do Grupo de Comunicação O POVO a única empresa jornalística cearense a vencer uma categoria nesta edição. Foi um trabalho de equipe que envolveu diretamente cerca de dez profissionais, entre cinegrafistas, editores de imagens e auxiliares.
Entrega do prêmio
Série de Reportagens Inovação e Sustentabilidade - VT Casa de Plástico
Série Reportagens Inovação e Sustentabilidade - VT Reciclagem do Lixo na Construção Civil
Série Reportagens Inovação e Sustentabilidade - VT Empreendimentos com Selo de Sustentabilidade
Campanha Dia das Crianças
Quem é jornalista, sabe o quanto é difícil entrevistar crianças. O mais comum é elas responderem de forma sucinta:
- Sim, não, gostei, tô feliz.
A partir do momento em que a gente entra no mundo deles, usa elementos que os deixam confortáveis, como lápis de cor e desenhos, o resultado é surpreendente.
Agradeço à equipe que trabalhou comigo nesse Especial, Luan Gerard, Nyna Sany e João Vítor Izídio. Ficou claro, na produção do trabalho, que eles estavam preocupados em fazer dar certo. Cada um contribuiu com seu talento. Não enviamos esse material para nenhuma premiação, mas, pra mim, os resultados foram troféus.
Não houve preparação prévia, não conhecíamos as crianças… Tinha tudo para dar errado e não é isso que eu ensino em sala de aula ou nos meus cursos, pelo contrário.
Ou seja, faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!
O que importa é que os erros cometidos serviram de aprendizado e o mais importante é que eu não me lembro de ter rido tanto como naquele dia. E sim, eu estava trabalhando……
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Lembro como se fosse ontem. Em maio de 2020, estávamos em lockdown aqui no Ceará e todos os funcionários trabalhavam de forma remota para atender o corretor de imóveis da melhor forma possível, dentro de nossas limitações. Na internet, o clima era de desalento por causa da pandemia. Atendia os profissionais do mercado imobiliário nas redes sociais. Era impossível não partilhar da mesma angústia que eles sentiam. E eu precisava dar conta de tudo. Todos nós precisávamos. Me vi com a tevê ligada, o notebook aberto na sala de jantar e a cebola cortada a me esperar para cozinhar o feijão do almoço. Sufocada em passar o dia inteiro trancada no apartamento, fui até a varanda minúscula para respirar. A vizinha ouvia Toquinho. A música, um clássico, O caderno. De repente, olhei pro notebook que estava aberto no Instagram do Creci e comecei a cantarolar desafinadamente:
..."Sou eu que vou seguir você desde o primeiro anúncio em busca do seu lar...
E em todas as visitas sempre vou te acompanhar. A casa, um apê pra sair do aluguel e morar num pedaço de céu...."
Aqueles versos foram um grito. Eu podia sentir o que a categoria sentia diante daqueles tempos de tamanha incerteza. Não demorou muito e as estrofes se complementaram. Foi um alento para o meu coração.
Pedimos ao artista cearense David Valente para dar a sua voz à versão da música. Quando postamos a música nas redes sociais, vimos o poder transformador que a música tem. Recebemos centenas de mensagens de agradecimento. No aniversário de 60 anos do Sistema Cofeci Creci, lembrei-me da música e pensei em apresentar ao Toquinho a versão da letra feita por mim. Como jornalista, consegui chegar até ele, que disse gostar muito da versão que faz uma homenagem a uma categoria tão importante para a sociedade.
A letra que quase me fez queimar o feijão foi gravada em estúdio, em São Paulo, pelo Toquinho, para uma campanha especial de valorização da profissão que realiza o sonho de todos os brasileiros.
Aos corretores de imóveis, meu respeito e afeto em forma de mensagem:
Sou eu que vou seguir você desde o primeiro anúncio em busca do seu lar E em todas as visitas sempre vou te acompanhar. A casa, o apartamento pra sair do aluguel e morar num pedaço de céu. Sou eu que vou ver o contrato de compra e venda pra te proteger e a taxa do financiamento boa pra você. Serei sempre o seu consultor mais fiel. Tudo legitimado em papel. Sou eu que vou ser seu amigo, sempre estar contigo pra negociar quando surgir aquele imóvel que você gostar. Um lar, doce lar, será sempre um troféu. Uma casa ou arranha céu Eu sei que vai lembrar de mim quando pegar as chaves para se mudar. Na vida a gente colhe os frutos que a gente plantar. Só peço a você: nunca perca a fé. De morar onde você quiser.
Versão música Toquinho - Corretor de Sonhos
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Depois de fazer terapia, talvez tenha aprendido a me conectar com as minhas dores. Já consigo entender um pouco como eu funciono. Minha escrita é um grito, às vezes. No ano que minha mãe teve um AVC hemorrágico grave e ficou com sequelas motoras, fiquei perdida e confusa. Havia perdido minha companheira de café no fim da tarde? Nunca mais ela iria lá pra casa me entregar um pote de lentilha e frango para eu comer na semana? E nossos rolês pelo centro da cidade, um dia, voltariam? Ela se adaptaria à cadeira de rodas?
Quantas dúvidas e incertezas. Eu precisaria entendê-la para ajudá-la melhor. Quando fiz a reportagem com a Jully Coutinho, senti uma vontade de me colocar no lugar da minha mãe. Uma pessoa que, da noite pro dia, teve que aceitar sua condição e reaprender muitas coisas que jamais imaginaria. Se vocês perceberem, eu falo a palavra “né” repetidas vezes na hora da passagem (é o momento que o repórter aparece na reportagem). Sim, estava muito nervosa e desconfortável. Nunca me senti tão exposta como naquele dia, para aquela matéria. Vivia um momento de tanta fragilidade e decidi dividir com quem estivesse do outro lado da tela.
Sabe aquele velho pensamento do copo meio cheio ou meio vazio? Como eu falo no livro, hoje percebo que não foram os passos da minha mãe que ficaram mais lentos, eu que precisava desacelerar. Quando você estiver com seus pais ou seus avós, esteja mesmo. Solte o celular, desligue o que pode te distanciar de vivenciar aquele momento com plenitude. Eu e mamãe temos momentos eternizados na nossa memória, risadas exageradas e estridentes que nunca estiveram nas redes sociais, mas que hoje fazem eu agradecer a Deus por ter deixado minha mãe aqui, por mais tempo.
Reportagem Acessibilidade - Prêmio Gandhi de Comunicação