Quem é jornalista, aprende a dar voz ao outro, a falar sobre as dores alheias (ou não). Muitas vezes, somos a ponte entre o poder público e a população. Consigo lembrar histórias que ouvi há catorze anos e nunca mais esqueci. Conversar com as pessoas, olhar no olho delas e sair do jeito que entrei sempre foi impossível. As pessoas passam por nós, então, sempre me permiti emocionar pela história de vida do outro. Por um momento, a gente esquece que também tem uma história, uma voz. Sempre dei voz aos outros até que senti vontade de dar voz a mim mesma. Sempre gostei de escrever, desde criança, como um desabafo.
Em um determinado momento, parei pra fazer as contas e, rapidamente, percebi que já tinha mais de dez anos de formada e algumas histórias pra contar. Aquele pensamento que teimamos em repetir: “Isso só acontece comigo?” Não, não mesmo.
Fui com medo, mesmo. Coloquei no computador o que já tinha me envergonhado (no jornalismo), o que me inspirou na caminhada, o que eu queria esquecer, o que já me indignou, o que tanto me orgulhava, o que me faz sentir saudade. De repente, as histórias dos meus entrevistados se confundiam (ou fundiam) com as minhas. Como quando, em uma matéria sobre artrose, uma senhorinha descoberta (ao acaso) pela produção contou que conheceu meu pai (ele morreu quando eu tinha dez dias de vida), ou quando um menino no meio da rua disse que já tinha decorado o texto que eu teimava em esquecer na hora de gravar a passagem.
Em vez de perguntar pra mim mesma: Por que escrever um livro? Pensei: Por que não escrever um livro? Eu não preciso ser a Viola Davis ou a Michelle Obama para me sentir no direito de escrever. Para quem duvida se sua história rende um livro, não hesite!
Também aprendi que a mesma palavra que cura, liberta e salva também machuca. Veneno e antídoto são faces da mesma moeda. Só há escrita criativa quando há escuta criativa. #instagram #jornalismo #escrita #autoraindependente #autora #escritora